sábado, 30 de maio de 2009

Uma Boa Frente!


Olá a todos.


Para inaugurar o nosso blog:


Fui convidado a dirigir um vídeo institucional para FAS – Fundação Amazonas Sustentável, na RDS do Juma em Novo Aripuanã - AM. O vídeo é sobre a primeira semana de aula no Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Samuel Benchimol. Bem, pra começar a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma fica a 230km de Manaus, tem 589 mil hectares, é considerada um local estratégico para a conservação da biodiversidade e onde o “Bolsa Floresta Familiar” - bancado pela fundação Marriot - , é aplicado. Pra chegar lá - vocês já devem saber, porque na Amazônia é assim - , só de barco ou de avião. Lógico, fomos de avião! Hidroavião para ser mais exato e mais rápido. Peraí! Nem tão rápido assim! Levantei às 5h da manhã pra passar na produtora, pegar o equipamento, correr pro aeroporto “Eduardinho”, embarcar às 7h, pro avião decolar às 7h 40 e, sabe-se lá porquê, um individuo resolveu roubar um equipamento do aeroporto e todas as aeronaves ficaram no solo por mais de 2h! Às 10 e 30 nosso “Caravan” decolou com a missão de aterissar nas águas do rio Aripuanã. Ufa! Na comunidade Boa Frente, uma das 32 que integram a RDS do Juma, fomos recebidos pelos ribeirinhos e seus filhos curiosos que nos acompanharam até a sede do núcleo onde seria nossa residência pelos próximos 6 dias. Depois de atar minha rede e revestí-la com um mosquiteiro impregnado de veneno para evitar a malária, fui conhecer as pessoas e o lugar. A comunidade Boa Frente faz jus ao nome: silêncio, rio calmo e uma ótima vista da floresta. O núcleo é todo construído em madeira certificada e abriga uma escola com 2 salas de aula, uma tradicional e outra para o ensino à distância com internet wi-fi; refeitório, alojamentos para estudantes, professores e visitantes; banheiros masculino e feminino, posto de saúde e alojamento/escritório para os coordenadores. Fiquei muito empolgado e feliz com o que ví: a escola ao encontro do aluno rumo à conservação. No dia seguinte, tão logo o sol surgiu, o Maurício Adu - um dos coordenadores do núcleo - foi na voadeira, de comunidade em comunidade, buscar os primeiros alunos. Eu e a Marina Guedes, assessora de comunicação, nos juntamos ao Maurício pela parte da tarde para fazer imagens e entrevistas. Saímos lá pelas 13h e retornamos só à noite. O Maurício foi buscá-los porque as comunidades são distantes do núcleo e a maioria não tem combustível suficiente para utilizar em seus motores de rabeta. A escola foi pensada para funcionar da seguinte maneira: o estudante fica uma semana no núcleo estudando, em tempo integral – com direito a café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar –, tem aulas do ensino tradicional e aulas em campo (permacultura, conservação do meio ambiente, reciclagem de lixo, etc.) e uma semana na comunidade de origem aplicando o que aprendeu. E esse tempo na comunidade conta como tempo de aula. O método de ensino tradicional aliado ao saber tradicional das populações! Antes de retornar à Manaus um dos alunos, o Nei, deu a seguinte declaração: “O que eu mais gostei aqui na escola não foi só o que eu aprendi, não. As professoras são muito legais, todo mundo. Mais, o que eu mais gostei foi que eles me valorizam pelo que eu sou. Pelo que eu sei”. Já estava na hora de sair do discurso acadêmico e partir para a prática; já estava mais que na hora de valorizar o saber caboclo. Isto é uma “Boa Frente”.


P.S.: Para retornarmos à Manaus tinhamos que pegar o avião na sede do município de Novo Aripuanã. Para isso, seguimos de voadeira. Chegando à cidade, ao desembarcar no flutuante, Marina pegou sua bagagem e um escorpião picou-lhe a mão. Olha, doeu muito! Isso aconteceu bem ao meu lado! Acreditamos que ele estava escondido na voadeira, pois no dia anterior, uma árvore seca caiu em cima dela. Tudo indica que o escorpião estava preso à árvore e entrou na voadeira. A Marina já se recuperou do susto. O escorpião, esse eu não sei!



Foto: Marina Guedes/FAS.



Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

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