quinta-feira, 6 de agosto de 2009

“Imprevisibilidade”




Uma das coisas que mais gosto e admiro na Amazônia – e que mais tenho medo – é a “imprevisibilidade”. Num segundo o sol escaldante. No outro a chuva torrencial. Bons exemplos dessa “imprevisibilidade” – ô palavra difícil! - são a vazante de 2005, que causou uma calamidade jamais vista, e a recente cheia que desabrigou milhares de famílias de ribeirinhos e inundou o centro histórico de Manaus. A foto de hoje mostra como as coisas acontecem aqui no Planeta Água. Ela foi feita na comunidade Vista Alegre, no encontro dos rios Unini e Paunini, no Parque Nacional do Jaú, município de Barcelos. Em primeiro plano o rio Unini - calmo, sem banzeiros, à espera de um “tchibum”; em segundo plano, o que parece ser neblina na verdade é a chuva chegando: calma, sem alarde para depois desabar! Fiz esta foto com minha fiel NIKON F2 – ela já é uma senhora de mais de 40 anos! – com filme P&B Fuji Neopan ISO 400, velocidade 250 e diafragma em f8. Só deu tempo de clicar duas vezes pois um vento forte trouxe a chuva de vez pra cima da gente. Um bom fotógrafo deve estar sempre atento. Valeu ficar todo encharcado!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia

quarta-feira, 22 de julho de 2009

“Fotografar é um gesto de Amor”.


Lembram desta frase? Ela vinha impressa nos álbuns fotográficos da extinta “Sonora”, a mãe da Love. Lembram da Love, a “máquina” de fotografar? Na década de 1980 a Love era a grande novidade em fotografia; a sensação do momento. Já vinha com filme 35mm e quatro flashes embutidos. A pessoa “batia” a foto e rodava o encaixe dos flashes para avançar o filme. A Love, na época, era como o “celular": todo trabalhador tinha uma, duas e até três! Usavam-se as 24 poses e levava pra um dos vários laboratórios da Sonora pra ser revelado e ampliado em tamanho único, se não me falha a memória, 10x15. Acompanhavam as fotos coloridas um pequeno álbum com a frase que dá título a este post. Pois bem, a foto aí em cima na verdade ilustra esse “gesto de amor”. Saí pela cidade com minha Nikon F2 a tira colo - presente de um grande amigo, filósofo, sociólogo, jornalista e acreano radicado no Rio de Janeiro, Edilson Martins - e no igarapé do 40 encontrei este grupo de meninos tomando banho nas águas da fonte recém inaugurada. Pedi autorização e cliquei! Estava com um filme B&W da Kodak, sensibilidade ISO 400. Cliquei umas dez vezes até perceber que tinha a foto. Rebobinei o filme, levei pro Minilab e 30 minutos depois estava impressa. Na verdade, pra conseguir esta foto levei uns 15 minutos. O que quero dizer é o seguinte: tem que dominar a técnica! Não adianta nada sair por aí e “clicar” feito doido, pra todos os lados que a “venta” aponta (venta é nariz em “amazonês")! Aprendam a “Fotometrar”, a compor o quadro; dominem a “Regra dos Terços”, dominem o equipamento! Pra isso acontecer aconselho ter uma câmera de filme, mecânica ou eletrônica. As digitais já vêm prontas. É uma chatice só! O cara mira, clica e revisa no LCD. Se gostou, deixa lá; se não, deleta. Aí eu pergunto: se não existisse a câmera mecânica a digital existiria? Não. Pra existir o hoje, obrigatoriamente houve um passado. Pra existir o futuro tem que existir o hoje! “Queimar” filmes 35mm ainda é “a verdadeira faculdade da fotografia”. O P&B são o início de tudo e não vão morrer nunca! O filme, sim! Está com os dias contados. Por isso, dominem a luz, a câmera e a ação! Em película enquanto há tempo!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ao “Feitiço do Boto Navegador”.



A M A Z O N E N S E S !
A voz que pronunciava esta frase calou-se no último domingo, 19 de julho de 2009. O “Professor Mestrinho” sai da vida política e, definitivamente, o “Boto” entra para história. Não era para menos: Gilberto encantou gerações. Tive o prazer de conhecê-lo 19 anos atrás, em 1990, quando integrei a equipe de tv que produzia seus programas políticos, na campanha que o elegeu Governador do Amazonas pela terceira vez. Grande personagem! Grande figura mesmo baixinho, calvo, de fala mansa. Educadíssimo! Minha admiração surge mesmo em 1996. Ele voltou pra Manaus depois de passar por um transplante de rim e disposto a encarar mais uma campanha. Desta vez rumo à Prefeitura. Todos haviam dito que ele não aguentaria, estava velho, operado e acabado. Que nada! O “Boto” inicia mais uma campanha com uma estratégia de causar inveja ao Robson Caetano: decidiu fazer caminhadas pelos bairros de Manaus em meados de julho,verão total! Os adversários utilizaram a mesma estratégia. E assim foi até o final; até a derrota para o Serafim, que ele apoiou no segundo turno. A equipe ficou arrasada. Pensávamos que, por ele ter sido derrotado, entraria numa clausura sem fim. João Thomé, seu filho, disse-nos que ele voltaria depois pra conversar conosco. Dito e feito: o “Boto” retornou à produtora, na hora marcada, acompanhado por seu filho e por Pacheco – seu fiel escudeiro – e conversou com toda a equipe. Agradeceu a todos pelo empenho, dedicação e assumiu a responsabilidade pela derrota. Naquele momento percebi que o “Boto”, que há tempos havia sido pintado como um ser inatingível, uma “Raposa Política”, mostrou-se um “Ser Humano”; um ser igual a todos que se fazia respeitar porque respeitava. Um belo dia, ainda na campanha de 1996, no estúdio de gravação perguntei a ele: “Professor, o que é que senhor faz pra aguentar todo esse esforço, e ainda com um rim transplantado? Qual é o segredo? Ele disse: “Meu café da manhã, Paulinho, são oito ovos de tracajá todos os dias! Já fiz todos os exames que você possa imaginar. Nunca apareceu nada! Cresci comendo ovos de tracajá, tartaruga. Eu acho que é isso, porque eu não faço nada diferente”! Em outro momento ele me disse o que realmente era a política: Preste atenção Paulo! A política é "pura matemática": você soma dois mais dois e o resultado tem que ser cinco porque você ainda vai consquistar outros votos! Gilberto conhecia cada calha de rio desse imenso Amazonas; tinha eleitores fiéis em todas, – pasmem! – todas as localidades que se possa imaginar dentro de um Estado com 1.500.000 hectares! Por isso defendeu o caboclo, em nível nacional e internacional, em vez do jacaré de Nhamundá e foi “Estigmatizado” como anti-ecológico! As ong’s o odiavam, e ainda o odeiam, mas o povo o adorava! Ele foi eleito senador, não se reelegeu, e há alguns meses atrás conversei com um amigo e assessor do “Professor” - o Corinthiano Alfredo Lopes - sobre a necessidade de se produzir um documentário sobre a vida e a obra do “Gilberto”. Afinal, a história do Amazonas também foi conduzida por ele. Alfredo adorou, mas infelizmente não deu tempo. Agora, acredito que o Pacheco é mais que um "escudeiro fiel" ou uma personagem importante: é uma testemunha ocular. “Gilberto” partiu e só nos resta a letra de um jingle da campanha de 1990. Seu hino de campanha:


“Pelo rio um caboclo navega sem medo
Ô, ô, ô, ô
Vê arara, uirapuru, boto, tucunaré
É, é, é, é
Minha terra é tudo o que se imaginar
Das florestas, das lendas encantar
Tanta vida nos braços do meu rio-mar

Amazonas

Apontou o rumo certo, vamos navegar
Ô, ô, ô, ô
No feitiço do boto navegador
Gilberto, ô, ô, ô
Mestre comandante, meu Governador

No presente, no futuro, seja o que é preciso
Ô, ô, ô, ô
Com Gilberto comandando o que tem pra fazer
Ê, ê, ê, ê
Quem viveu, conheceu, não esquecerá
Tanta felicidade reviverá
Ainda bem que o Amazonas sabe te esperar
Gilberto, já!
Despontou um novo tempo vamos navegar
No feitiço do boto navegador
Gilberto, ô,ô,ô, ô
Quem é mestre, será mestre, meu Governador”.


Letra e música: Hilton Acioli, potiguar, autor de “Vai lá e vê” ou “Lula Lá”!
Adeus "Boto"!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

domingo, 19 de julho de 2009

"Uma História de Resistência".


A Oficina Prática de Produção Audiovisual, ministrada por Jean Robert, encerrou no dia 15 de julho passado. Foram dez dias de intenso aprendizado (no domingo todos estavam de folga! ) Os alunos perceberam que não basta ter uma idéia e sair “gravando” qualquer coisa, de qualquer jeito. Tem que “Produzir” com “P” muiúsculo! Na quinta-feira a aula foi em campo. Todos nós – eu me incluo porque fui o diretor convidado e responsável pelo produto final, um vídeo documentário – fomos até o “Palacete Provincial” para uma visita de locação. Os alunos vivenciaram na prática tudo o que absorveram durante a Oficina: pré-produção, autorizações, fotografia de locação para o diretor, posição do sol para gravar fachadas, etc. No sábado gravamos o dia inteiro: das 8h da manhã às 18h. Dia lindo! Céu azul, poucas nuvens – de julho a agosto a luz está fantástica. Resultado: uma ótima fotografia! Bem, o “Palacete Provincial” foi escolhido por nós como cenário do documentário em curta-metragem que é resultado prático da oficina. Nos anos 40, em pleno “Estado Novo de Getúlio Vargas”, ele serviu de cárcere para um dos jornalistas mais respeitados do Amazonas: Aristophano Antony. 184 dias preso, 19 dias incomunicável, acusado injustamente de ser “germanófilo”! Sabem o que é isso? O nosso amigo inseparável, o “Dicionário Aurélio”, explica: germanófilo. Adj sm. Amigo ou admirador da Alemanha e dos alemães. Ele foi preso porque divulgava, por meio do seu jornal “A Tarde”, as notícias oriundas das agências de notícias européias e também porque, sendo um homem à frente do seu tempo, admirava Goethe, Nietzsche, Freud, e por aí vai. Da tradicional família Antony fomos apresentados à Sra. Maria Ineida Antony de Borborema. 82 anos de pura simpatia, lucidez, inteligência. Admirável senhora! Ela, aos 15 anos de idade, foi a única pessoa a conseguir visitar o pai na prisão. Conseguimos entrevistá-la, depois de muito insistirmos, e o resultado final é uma história que se confunde com a história da nossa cidade e do Palacete Provincial. "Uma História de Resistência” é o título do documentário, até agora, com 17 minutos. Ainda vou inserir uma entrevista com o escritor e historiador Robério Braga que nos conta, com conhecimento de causa, a história de resistência deste prédio tão importante na vida da nossa Manaus. Paulinho Da Viola, cantor e compositor brasileiro, disse: “Eu não vivo do passado. O passado vive em mim”. Por isso eu digo: Conheçam a história do seu lugar. Só ela, a história, nos prepara para o hoje e para o amanhã. A Oficina de Produção Audiovisual foi uma iniciativa do Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e do Liceu de Artes Claudio Santoro.

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Há "Beleza no Caos".



É trágico para as milhares de famílias de ribeirinhos que estão sofrendo com a enchente dos rios. Para os fotógrafos, profissionais e amadores, é uma grande oportunidade. Registrar um evento natural de tamanha proporção - muito acima do normal, diga-se de passagem e sem trocadilhos – é quase um prêmio! A cheia nos dá de presente imagens fantásticas. A foto deste post foi feita de manhã, em “voadeira”, na orla de Manaus, no bairro de São Raimundo. Observem que nem as casas de alvenaria – que em outros tempos eram de “taipa”- escaparam das águas do Negro. Um “caos” para os moradores que investiram dinheiro naquilo que é mais “sagrado”: uma casa. No entanto, para fotógrafos e cinegrafistas, uma “bela” imagem.

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vermelho: um “Ruído” ou um “Aliado?”


Os pontos vermelhos nesta foto são 2 “Pets de 2 litros de Coca-cola”. Combinam com o verde dos “Murerus” do igarapé de São Raimundo? Não! Definitivamente, não! A cheia dos rios – em especial o rio Negro, um dos mais lindos da bacia amazônica – revela em detalhes, vistos a olhos nús, uma “certa predileção” pelo refrigerante de cola criado nas terras de Obama. Nada contra. Gosto muito de Coca-cola. No entanto, mesmo sabendo que o plástico leva até 100 anos para se decompor, nada muda no “Planeta Água”. Esta foto foi feita hoje, 02 de julho de 2009. Observem: em terceiro plano vemos a ponte - que liga o bairro de Aparecida ao bairro de São Raimundo - a torre da igreja e algumas casas; em segundo plano o igarapé cheio, inundado pelas águas do Negro; e em primeiro plano os “Murerus” ou “Aguapés”, que abrigam e alimentam espécies animais (peixes, pássaros, insetos). Porém, em “Primeiríssimo plano” eles: os “Pets de 2 litros de Coca-cola”! No “linguajar” dos profissionais da fotografia e do audiovisual isso é um “Ruído”; está atraindo mais a atenção que o resto do quadro ou cena; literalmente, “Poluindo!” A cor vermelha, por mais “Garantido”que seja o fotógrafo, deve ser observada e usada, sempre com muito cuidado. Percebem como causa desarmonia na foto? Pois é. Em qualquer lugar que estejam sempre observem a origem da luz e as cores que absorvem e refletem a luz. Ruídos podem ser suavizados e transformados em aliados. Lembrem-se: coca-cola combina com McDonald’s, o sanduba de plástico!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma coisa é certa: conhecimento nunca é demais!



No dia 06 de julho começa a Oficina de Produção Audiovisual, no liceu de Artes Claudio Santoro, com Jean Robert César. Como aqui nas terras do “Jaraqui” tudo é grande, Jean Robert também é grande: grande produtor, grande amigo, grande parceiro! Nos conhecemos em 2003 quando, Luis Carlos Martins – roteirista e diretor de “A Selva na Selva: a vida dos mitos, os mitos da vida” (1º. DOCTV) – convidou-nos para participar do projeto (Luiz Carlos. diretor; Jean Robert, produtor; e eu como co-diretor e diretor de fotogrfia). Até então eu o tinha visto trabalhar em outro projeto, de um outro amigo meu. Jean, com sua larga experiência em audiovisual, tomou conta da equipe com toda a destreza: 7h na van, 7 e 20 café da manhã, 8 e 50 na locação para preparar luz, 9 e 15 h gravando com entrevistado, 11 e 45 almoço, etc. Administrou tudo – a verba e a equipe - com “conhecimento” de causa. Conhecimento adquirido com seu pai e mais de 23 anos de longas-metragens, videoclipes nacionais, documentários, campanhas políticas, filmes publicitários, mini-séries, reality shows e... um curta-metragem do qual ele se orgulha muito: “Nas Asas do Condor”. Primeiro curta-metragem, em quase 30 anos, finalizado em película! Esse marco ninguém tira da gente! No dia da estréia, no Amazonas Film Festival de 2007, Jean – que junto comigo e a diretora Cristiane Garcia, tinha assistido ao teste de projeção em uma das salas do Millenium - era só alegria! - Este curta não foi fácil! Como ele disse: “é um curta com infraestrutura de longa-metragem: é inspirado num conto literário, tem avião, várias locações, animação, crianças, falta de verba, tudo!” Jean abraçou este projeto e nos ensinou a olhar este filme, com apenas 20 minutos de duração, como um “produto”. Jean me ensinou a não ter medo de ouvir “não”; me estimulou a captar recursos, a buscar possibilidades no “quase impossível”. Jean é uma dessas pessoas, que assim como eu, têm paixão pelo que faz! Paixão e conhecimento aliados à vontade de realizar! Para ele o “longe” é ainda mais longe que o longe de Richard Bach em “Fernão Capelo Gaivota”. Na Oficina de Produção Audiovisual vamos aproveitar, porque conhecimento nunca é demais!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

“Neverland” não tem peça de reposição!

Ele se foi!
Michael Jackson - o homem da cara de plástico, que acreditou e viveu na “Neverland" - partiu e não deixou peça de reposição no mundo da música pop. Insuperável, influenciou uma geração de artistas e não-artistas que hoje só lamentam sua perda. Estava escrito ou melhor, estava desenhado em "finos traços" que o fim seria assim. Salvo John Lennon, que morreu com um tiro disparado por um psicopata disfarçado de fã, outros grandes ícones da música abandonaram suas vidas: Elvis, Joplin, Rendrix. Michael seguiu o mesmo caminho: “A Smooth Criminal”. Por causa do vitiligo deixou de ser “Black” e transformou-se em “White”; por recusar-se a crescer foi perseguido na “Neverland” e levado a julgamento (este sim o verdadeiro “Thriller”); por causa da depressão, motivada pelo isolamento do “Real World”, abusou dos remédios e se deu “Bad”. Aliás, quem ficou mal fomos nós, os milhões de fãs espalhados pelo mundo: “They don’t care about us”! E agora, o que fazer com essa “History”? Apenas lembrar e guardar o máximo possível de dvds - com shows e video clips do gênio que os transformou em curtas-metragens -, que vão estar disponíveis nas lojas a preços nada promocionais! Afinal, “Billie Jean it’s not my lover. She’s just a girl who claims i’m the one. But, the kid is not my son! Michael deixou um legado e ninguém, em tempo algum, vai conseguir ir adiante! Como havia escrito: “Neverland” não tem peça de reposição! O "Moonwalker" agora é prá valer!
P.S.: Te cuida Madonna!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Surreal!




Imaginem o diálogo de um “flanelinha” ajudando o comandante da embarcação aí da foto, a “estacionar” o batelão. Olha já a conversa, manozinho: “Mais pra ilharga, mais pra ilharga". Tá “panema” hoje, “discunjuro seo mano!” Assim “mermo”, “bota pra bêra!” Pronto, vá com a “pomba do divino” e pode deixar que ninguém toca no "purrudo”! “Surreal”, né mesmo? Com a cheia alcançando 29,71m, tornando-se a maior desde 1953, imagens como essa não são um mero acaso; tampouco ficção. A foto que fiz ontem no bairro de Aparecida, literalmente mostra uma vaga de estacionamento - na calçada- pra barcos. Bem que a prefeitura podia contratar uns flanelinhas pra ajudar no trânsito da nossa cidade! Quem tem uma câmera - de qualquer formato -, pode fazer imagens fantásticas! Na escadaria dos “Remédios”, por exemplo, os carregadores estão felizes e aliviados: não precisam descer aquele monte de degraus para chegar às embarcações; elas vão até eles! Os caminhões chegam e são estacionados com o maior cuidado para não esbarrar na proa dos barcos; os carregadores, agora, dão 5 passos com os sacos de produtos nas costas e já estão no porão. “Surreal”! Vale a pena sair de casa e fotografar tudo isso. Aproveitem! A próxima cheia, eu espero que não venha tão cedo! Por isso, fotografem com qualquer equipamento! Muitos “clics” pra todos.

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A “enchente” da era digital! Que tal um “upgrade”na cabeça?


“Paresque”, a cheia de 1953 vai ficar pra trás! “Escuteinda!” Fiz uma incursão no bairro de São Raimundo e molhei os sapatos nas águas do Negro, dentro da sala de estar de uma família. Foi bem ali na biqueira da ponte que liga o bairro ao centro. Pra se ter uma idéia do aguaceiro, tem jaraqui da escama fina passeando no quintal e tucunaré pedindo pra tirar ele da água! Bem fritinhos, com qualquer farinha, não sobram nem as escamas! Mais rapaz! Aproveitei e fotografei o lugar pra mostrar para as futuras gerações – até porque, só conheço a de 1953 por fotos e relatos dos mais velhos –, o que a natureza é capaz de fazer pra se defender. É muita água! Também fui ao centro da cidade, lá pela Eduardo Ribeiro. O prédio da Alfândega, que já era atração turística, virou “popstar”. Todo mundo quer tirar uma foto na frente do coitado, só pra dizer: “maninha da minha’alma, bati um retrato da enchente. Olha já?!” Ao lado do mercado Adolpho Lisboa só passa de catraia; as pontes improvisadas são o asfalto e sacos de areia são o muro de arrimo ( e mesmo assim os camelôs continuam lá!). Pois bem. Em todos os lugares, por onde quer que ande, tem sempre alguém com uma câmera fotográfica digital ou uma de vídeo. Foto pra cá, vídeo pra lá; celular então, nem se fala. E assim vamos registrando a cheia do rio negro. Na tv a cabo, na internet, nas tvs abertas... em tudo o que é canto tem imagem das alagações, em movimento e em “still”; milhões de pixels da cheia dominam as telas de “LCD”ou “PLASMA”; fez a foto aqui, a imagem ali e pronto! Tá na rede! A única coisa que não acontece com tanta velocidade é a educação do povo. Se você for analisar as imagens bem de perto, bem de pertinho mesmo, vai ver que a cada 2 megapixels tem uma latinha de cerveja ou uma garrafa pet! O lixo jogado no que sobrou dos nossos igarapés nunca voltam pra casa do cara que o jogou. E o mais engraçado é que o cérebro humano é o computador mais potente que existe – palavra dos cientistas! Mais quando já?! Tá mais que na hora de um “upgrade” geral; tá mais que na hora de impedir o pior. Vamos fotografar e gravar em vídeo sem o lixo como ator principal.

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

sábado, 13 de junho de 2009

Como é difícil ser um romano nos trópicos!




Cinema complicado esse nosso, hein? Já não bastasse a distância entre a vontade de fazer cinema, a falta de conhecimento técnico de muitos “pseudo cineastas” locais, ainda publicam um edital – o Proarte 2009 da Secretaria de Estado da Cultura - , ilegal! Não sou eu quem está dizendo. É o conselheiro da OAB-AM, Antonio Barro de Carvalho. E isso tá escrito no Diário do Amazonas de quarta-feira, dia 10. No edital, no quesito PROPONENTE, ítens 2.4 e 2.7, está escrito: O proponente da Capital – Manaus – deverá estar devidamente registrado e quitado, com anuidade 2009, na Associação de Cinema e Vídeo do Amazonas – ACVA (que absurdo!); e que os membros da Comissão de Análise Técnica (olha o absurdo de novo!), poderão participar do consurso (ou seja inscrever projetos), desde que os mesmos não avaliem seus projetos! Viu como é difícil ser romano nos trópicos? É quase impossível fazer cinema aqui na terra do jaraqui. Se o edital é de uma secretaria de estado logo ele é público, ou seja, qualquer pessoa – devidamente documentada e com seus impostos em dia - pode participar. Outra coisa: o cidadão inscreve um projeto e faz parte da Comissão de Análise! Olha, é o mesmo que colocar um peixinho num aquário cheio de piranhas. Nada contra a ACVA, nada contra seus membros. Sou contra esse tipo de atitude que impede o acesso aos bens públicos. O dinheiro disponível – diga-se de passagem, do contribuinte - para o contemplado realizar seu projeto audiovisual nem é muito: apenas 12 mil. Como o imposto de renda já fica retido na fonte, sobra um pouco. Se a verba é pública e o edital também, por quê uma entidade sem fins lucrativos decide, por meio de um Conselho Estadual de Cultura, que os participantes sejam obrigatoriamente associados à ACVA? Sérgio Uchôa, secretário administrativo da ACVA, é membro do conselho na área de cinema e vídeo e estava presente quando impuseram essa condição. Pergunto ao Sérgio: o que você estava fazendo aí que não viu um absurdo desses? Preparando o seu projeto para inscrever no Proarte? É por isso que eu digo: como é difícil ser um romano nos trópicos!


P.S.: O título “Como é difícil ser um romano nos trópicos” pertence ao cineasta Roberto Kahane.
Até a próxima.


Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

sábado, 30 de maio de 2009

Uma Boa Frente!


Olá a todos.


Para inaugurar o nosso blog:


Fui convidado a dirigir um vídeo institucional para FAS – Fundação Amazonas Sustentável, na RDS do Juma em Novo Aripuanã - AM. O vídeo é sobre a primeira semana de aula no Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Samuel Benchimol. Bem, pra começar a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma fica a 230km de Manaus, tem 589 mil hectares, é considerada um local estratégico para a conservação da biodiversidade e onde o “Bolsa Floresta Familiar” - bancado pela fundação Marriot - , é aplicado. Pra chegar lá - vocês já devem saber, porque na Amazônia é assim - , só de barco ou de avião. Lógico, fomos de avião! Hidroavião para ser mais exato e mais rápido. Peraí! Nem tão rápido assim! Levantei às 5h da manhã pra passar na produtora, pegar o equipamento, correr pro aeroporto “Eduardinho”, embarcar às 7h, pro avião decolar às 7h 40 e, sabe-se lá porquê, um individuo resolveu roubar um equipamento do aeroporto e todas as aeronaves ficaram no solo por mais de 2h! Às 10 e 30 nosso “Caravan” decolou com a missão de aterissar nas águas do rio Aripuanã. Ufa! Na comunidade Boa Frente, uma das 32 que integram a RDS do Juma, fomos recebidos pelos ribeirinhos e seus filhos curiosos que nos acompanharam até a sede do núcleo onde seria nossa residência pelos próximos 6 dias. Depois de atar minha rede e revestí-la com um mosquiteiro impregnado de veneno para evitar a malária, fui conhecer as pessoas e o lugar. A comunidade Boa Frente faz jus ao nome: silêncio, rio calmo e uma ótima vista da floresta. O núcleo é todo construído em madeira certificada e abriga uma escola com 2 salas de aula, uma tradicional e outra para o ensino à distância com internet wi-fi; refeitório, alojamentos para estudantes, professores e visitantes; banheiros masculino e feminino, posto de saúde e alojamento/escritório para os coordenadores. Fiquei muito empolgado e feliz com o que ví: a escola ao encontro do aluno rumo à conservação. No dia seguinte, tão logo o sol surgiu, o Maurício Adu - um dos coordenadores do núcleo - foi na voadeira, de comunidade em comunidade, buscar os primeiros alunos. Eu e a Marina Guedes, assessora de comunicação, nos juntamos ao Maurício pela parte da tarde para fazer imagens e entrevistas. Saímos lá pelas 13h e retornamos só à noite. O Maurício foi buscá-los porque as comunidades são distantes do núcleo e a maioria não tem combustível suficiente para utilizar em seus motores de rabeta. A escola foi pensada para funcionar da seguinte maneira: o estudante fica uma semana no núcleo estudando, em tempo integral – com direito a café da manhã, lanche, almoço, lanche e jantar –, tem aulas do ensino tradicional e aulas em campo (permacultura, conservação do meio ambiente, reciclagem de lixo, etc.) e uma semana na comunidade de origem aplicando o que aprendeu. E esse tempo na comunidade conta como tempo de aula. O método de ensino tradicional aliado ao saber tradicional das populações! Antes de retornar à Manaus um dos alunos, o Nei, deu a seguinte declaração: “O que eu mais gostei aqui na escola não foi só o que eu aprendi, não. As professoras são muito legais, todo mundo. Mais, o que eu mais gostei foi que eles me valorizam pelo que eu sou. Pelo que eu sei”. Já estava na hora de sair do discurso acadêmico e partir para a prática; já estava mais que na hora de valorizar o saber caboclo. Isto é uma “Boa Frente”.


P.S.: Para retornarmos à Manaus tinhamos que pegar o avião na sede do município de Novo Aripuanã. Para isso, seguimos de voadeira. Chegando à cidade, ao desembarcar no flutuante, Marina pegou sua bagagem e um escorpião picou-lhe a mão. Olha, doeu muito! Isso aconteceu bem ao meu lado! Acreditamos que ele estava escondido na voadeira, pois no dia anterior, uma árvore seca caiu em cima dela. Tudo indica que o escorpião estava preso à árvore e entrou na voadeira. A Marina já se recuperou do susto. O escorpião, esse eu não sei!



Foto: Marina Guedes/FAS.



Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

Olá!

Oi gente, tudo bem?
Chegamos!
O "Escuteinda" é um espaço para compartilhar experiências, dizer o que queremos e o que pensamos.
Por aqui você vai acompanhar os bastidores de nossas produções audiovisuais: as que estão em andamento e o que está por vir.
Fiquem à vontade! Deem suas sugestões; façam seus comentários.
Enfim, chegamos!

Grande abraço a todos.