terça-feira, 21 de julho de 2009

Ao “Feitiço do Boto Navegador”.



A M A Z O N E N S E S !
A voz que pronunciava esta frase calou-se no último domingo, 19 de julho de 2009. O “Professor Mestrinho” sai da vida política e, definitivamente, o “Boto” entra para história. Não era para menos: Gilberto encantou gerações. Tive o prazer de conhecê-lo 19 anos atrás, em 1990, quando integrei a equipe de tv que produzia seus programas políticos, na campanha que o elegeu Governador do Amazonas pela terceira vez. Grande personagem! Grande figura mesmo baixinho, calvo, de fala mansa. Educadíssimo! Minha admiração surge mesmo em 1996. Ele voltou pra Manaus depois de passar por um transplante de rim e disposto a encarar mais uma campanha. Desta vez rumo à Prefeitura. Todos haviam dito que ele não aguentaria, estava velho, operado e acabado. Que nada! O “Boto” inicia mais uma campanha com uma estratégia de causar inveja ao Robson Caetano: decidiu fazer caminhadas pelos bairros de Manaus em meados de julho,verão total! Os adversários utilizaram a mesma estratégia. E assim foi até o final; até a derrota para o Serafim, que ele apoiou no segundo turno. A equipe ficou arrasada. Pensávamos que, por ele ter sido derrotado, entraria numa clausura sem fim. João Thomé, seu filho, disse-nos que ele voltaria depois pra conversar conosco. Dito e feito: o “Boto” retornou à produtora, na hora marcada, acompanhado por seu filho e por Pacheco – seu fiel escudeiro – e conversou com toda a equipe. Agradeceu a todos pelo empenho, dedicação e assumiu a responsabilidade pela derrota. Naquele momento percebi que o “Boto”, que há tempos havia sido pintado como um ser inatingível, uma “Raposa Política”, mostrou-se um “Ser Humano”; um ser igual a todos que se fazia respeitar porque respeitava. Um belo dia, ainda na campanha de 1996, no estúdio de gravação perguntei a ele: “Professor, o que é que senhor faz pra aguentar todo esse esforço, e ainda com um rim transplantado? Qual é o segredo? Ele disse: “Meu café da manhã, Paulinho, são oito ovos de tracajá todos os dias! Já fiz todos os exames que você possa imaginar. Nunca apareceu nada! Cresci comendo ovos de tracajá, tartaruga. Eu acho que é isso, porque eu não faço nada diferente”! Em outro momento ele me disse o que realmente era a política: Preste atenção Paulo! A política é "pura matemática": você soma dois mais dois e o resultado tem que ser cinco porque você ainda vai consquistar outros votos! Gilberto conhecia cada calha de rio desse imenso Amazonas; tinha eleitores fiéis em todas, – pasmem! – todas as localidades que se possa imaginar dentro de um Estado com 1.500.000 hectares! Por isso defendeu o caboclo, em nível nacional e internacional, em vez do jacaré de Nhamundá e foi “Estigmatizado” como anti-ecológico! As ong’s o odiavam, e ainda o odeiam, mas o povo o adorava! Ele foi eleito senador, não se reelegeu, e há alguns meses atrás conversei com um amigo e assessor do “Professor” - o Corinthiano Alfredo Lopes - sobre a necessidade de se produzir um documentário sobre a vida e a obra do “Gilberto”. Afinal, a história do Amazonas também foi conduzida por ele. Alfredo adorou, mas infelizmente não deu tempo. Agora, acredito que o Pacheco é mais que um "escudeiro fiel" ou uma personagem importante: é uma testemunha ocular. “Gilberto” partiu e só nos resta a letra de um jingle da campanha de 1990. Seu hino de campanha:


“Pelo rio um caboclo navega sem medo
Ô, ô, ô, ô
Vê arara, uirapuru, boto, tucunaré
É, é, é, é
Minha terra é tudo o que se imaginar
Das florestas, das lendas encantar
Tanta vida nos braços do meu rio-mar

Amazonas

Apontou o rumo certo, vamos navegar
Ô, ô, ô, ô
No feitiço do boto navegador
Gilberto, ô, ô, ô
Mestre comandante, meu Governador

No presente, no futuro, seja o que é preciso
Ô, ô, ô, ô
Com Gilberto comandando o que tem pra fazer
Ê, ê, ê, ê
Quem viveu, conheceu, não esquecerá
Tanta felicidade reviverá
Ainda bem que o Amazonas sabe te esperar
Gilberto, já!
Despontou um novo tempo vamos navegar
No feitiço do boto navegador
Gilberto, ô,ô,ô, ô
Quem é mestre, será mestre, meu Governador”.


Letra e música: Hilton Acioli, potiguar, autor de “Vai lá e vê” ou “Lula Lá”!
Adeus "Boto"!

Paulo Freire é diretor de cena e diretor de fotografia.

2 comentários:

  1. Meu eterno mestre e inesquicivel homem, em toda sua essencia Gilberto foi sem duvida um grande marco na dos "AMAZONENSES".
    Nnunca esquecerei esse grande homem.

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  2. Saudade da minha infância. ...
    Boto navegador! !!
    AMAZONENSES !!!!!!!

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